Projetos de grande impacto para cidades com impacto neutro no clima

Quando pensamos em Bilbau, vêm-nos à mente duas imagens distintas: a Bilbau de outrora, industrial, cinzenta, dominada pelas suas grandes siderurgias e estaleiros navais e pela sua atividade comercial, derivada da sua localização estratégica a poucos quilómetros da costa; e a Bilbau de hoje, limpa, transformada, centrada nos serviços. Um dos grandes símbolos de Bilbau foi e continua a ser o estuário de Nervión, que concentrou grande parte da atividade industrial no passado, e que também sofreu uma importante transformação: o que antes era um sumidouro de resíduos industriais poluentes está agora limpo e tem vida.

A expansão urbana de Bilbau, muito limitada pela sua orografia, teve de procurar caminhos alternativos. Neste sentido, prosseguem os trabalhos de reconversão de antigas zonas industriais em locais reabilitados para fins residenciais, recreativos ou outros serviços. Um exemplo disso é a ilha de Zorrotzaurre, situada no bairro de Deusto. Esta ilha (até há poucos anos, uma península), era tradicionalmente um apêndice deste bairro, denominado Ribera de Deusto, dominado pela atividade industrial. No entanto, nos planos de transformação urbana, foi decidido torná-la numa zona fundamentalmente residencial.

Esta modificação faz parte do projeto Atelier, que visa construir cidades inteligentes orientadas para o cidadão, tendo como principais ambições a sustentabilidade e a neutralidade de carbono.

A Zabala Innovation participa como parceira no projeto para apoiar a Câmara Municipal de Bilbau e o resto das entidades que implementam o SDP de Zorrotzaurre, bem como para colaborar com outros projectos de smart cities e smart communities.

Zorrotzaurre como exemplo de sucesso

As instituições públicas estão a dedicar recursos importantes à reconversão de Zorrotzaurre em termos de descontaminação, urbanização, renovação de edifícios, etc., mas também para converter a ilha num banco de ensaio para iniciativas de sustentabilidade de ponta. Neste contexto, o projeto Atelier, financiado pelo programa-quadro europeu H2020, tem como objetivo criar e, posteriormente, replicar Distritos de Energia Positiva (PED), ou seja, áreas urbanas capazes de gerar mais energia eléctrica e térmica do que consomem, de modo que a energia excedente possa ser introduzida na rede para ser utilizada por outros edifícios e instalações.

Amesterdão e Bilbao lideram o projeto como cidades-farol, onde se define uma visão de cidade sustentável e se demonstram tecnologias inovadoras para a transição energética, enquanto Bratislava, Budapeste, Copenhaga, Matosinhos, Riga e Cracóvia entram como cidades parceiras, onde as soluções demonstradas nas cidades-farol serão ampliadas e replicadas.

Neste sentido, o projeto aposta em sistemas de utilização de energia primária e de produção de energia renovável. No caso de Zorrotzaurre, está a ser criada uma rede de aquecimento urbano baseada na energia geotérmica, uma forma de energia renovável que aproveita o calor interno da terra.

Trata-se da instalação de uma infraestrutura de furos, de anéis geotérmicos e de bombas de calor, à qual os edifícios de Zorrotzaurre estão a ser progressivamente ligados. Outras ações que contribuem para o objetivo de ser energeticamente positivo incluem a instalação de uma rede elétrica inteligente com um sistema de gestão da energia (SGE), a disponibilização de pontos de carregamento para carros elétricos, a instalação de iluminação pública inteligente, etc. O projeto coloca os cidadãos no centro da transformação da cidade, tentando responder às suas necessidades e preocupações e desenvolvendo ferramentas para incentivar a participação dos cidadãos na tomada de decisões.

O projeto Atelier tem agora quatro anos, com os desafios típicos de um projeto de inovação, mas com a ambição intacta de desenvolver bairros energeticamente positivos nas nossas cidades, que contribuam para alcançar os objetivos de descarbonização.