Ir para notícias

Defesa

Europa reforça a inovação em defesa com um investimento de mil milhões de euros

Europe Defence Fund 2025

Num contexto de desafios geopolíticos crescentes, a União Europeia está a intensificar os seus esforços na área da defesa, destinando 1,065 mil milhões de euros a projetos de investigação colaborativa (370,6 milhões de euros) e desenvolvimento (695,1 milhões de euros) no âmbito da edição deste ano do Fundo Europeu de Defesa (EDF 2025, na sigla em inglês). Esta iniciativa – que se articula em torno de 33 tópicos aglutinados em sete convocatórias temáticas, duas não temáticas e dois acordos de subvenção específicos para apoiar a Aliança para Contramedidas Médicas de Defesa – pretende fomentar a cooperação entre empresas, incluindo PME e entidades de investigação de toda a União, impulsionar o desenvolvimento de capacidades de defesa através de investimentos e ajudar as empresas europeias a desenvolver tecnologias e equipamentos de defesa de ponta e interoperáveis. As candidaturas permanecerão abertas até 16 de outubro de 2025.

Do you have an innovative project in this field? We can help you!

O programa deste ano, recentemente adotado pela Comissão Europeia, abrange projetos que vão desde o combate terrestre e aéreo até à resiliência energética e transição ambiental. Tecnologias digitais, incluindo cibersegurança e inteligência artificial, ocupam um lugar central no programa de trabalho, refletindo a crescente necessidade de proteger infraestruturas críticas e redes militares contra ameaças digitais.

 

Margherita Volpe, líder da Área de conhecimento de Defesa da Zabala Innovation, sublinha a importância deste investimento: “O programa de trabalho do EDF 2025 reflete os desafios emergentes do nosso tempo e foca-se claramente em impulsionar a inovação dentro da UE e em fomentar a participação de novos atores no ecossistema de defesa”.

Apoio às PME e fomento da inovação

O programa introduz ainda medidas específicas para apoiar as PME e empresas de média capitalização através do Esquema de Inovação em Defesa da UE (EUDIS). Este mecanismo disponibiliza subvenções e serviços a start-ups, PME e centros de investigação, ajudando-os a superar barreiras de entrada no mercado e a desenvolver ideias pioneiras no setor da defesa.

“Apoiar as PME é fundamental para fomentar a inovação e garantir que as soluções mais avançadas cheguem ao mercado europeu de defesa”, explica Filippo Giacinti, especialista em segurança e consultor da Zabala Innovation. Este enfoque pretende reduzir a fragmentação dos investimentos em tecnologias e capacidades de defesa, reforçar a cooperação industrial e promover a interoperabilidade entre os Estados-Membros.

O EDF 2025 dá também uma ênfase forte à inteligência artificial, com o lançamento de um desafio tecnológico nesta área. A integração da inteligência artificial nos sistemas de defesa promete melhorar a eficiência e a capacidade de resposta a ameaças emergentes. “A inteligência artificial tem o potencial de transformar as operações militares, desde a logística até à tomada de decisões em tempo real”, afirma Volpe sobre este tema.

Um esforço de modernização sem precedentes

A modernização das capacidades militares da Europa é outro pilar essencial do programa. Entre 2021 e 2024, o total dos gastos em defesa dos Estados-Membros da UE aumentou mais de 30%, atingindo aproximadamente 326 mil milhões de euros no ano passado, o que representa cerca de 1,9% do PIB dos 27 Estados-Membros, segundo dados do Conselho Europeu. Os especialistas preveem que esta despesa continue a crescer nos próximos anos.

A cooperação em defesa aérea e antimísseis também tem ganhado impulso, com 18 Estados-Membros a assinarem uma carta de intenções para reforçar a colaboração nesta área. O objetivo é partilhar custos e evitar duplicações no desenvolvimento de sistemas de defesa comuns, fortalecendo assim as capacidades europeias neste setor estratégico.

O EDF 2025 aborda também a necessidade de resiliência energética e transição ambiental no setor da defesa. Segundo Giacinti, “a sustentabilidade e a eficiência energética são agora fatores fundamentais no desenvolvimento das capacidades de defesa, garantindo que as nossas forças armadas sejam simultaneamente eficazes e ambientalmente responsáveis”.

Além disso, o programa inclui convocatórias para fomentar sinergias entre os setores civil e de defesa, em áreas como o espaço, a resiliência energética, o combate terrestre e a cibersegurança. Estas iniciativas visam aproveitar tecnologias de dupla utilização, com benefícios tanto para a sociedade civil como para aplicações militares.

Inovação e colaboração internacional

Uma das principais novidades do EDF 2025 é a participação de entidades ucranianas, que agora poderão candidatar-se a apoio para aceleração. O programa também financiará a segunda edição do Hackathon de Defesa EUDIS, que decorrerá entre 9 e 11 de maio de 2025 em oito localizações da UE, com o objetivo de desenvolver soluções para a Ucrânia e contextos operacionais semelhantes. Esta iniciativa pretende reunir inovadores, investidores e utilizadores finais do setor da defesa para colaborar em soluções práticas e eficazes.

Desde a entrada em vigor do Regulamento do EDF em maio de 2021, a Comissão Europeia investiu 5,4 mil milhões de euros em I&D na área da defesa, posicionando-se como um dos principais investidores na inovação europeia no setor. Com um orçamento total de 8 mil milhões de euros para o período 2021-2027, o EDF assenta em dois pilares fundamentais: financiar a investigação colaborativa na defesa para enfrentar ameaças emergentes e cofinanciar projetos de desenvolvimento de capacidades para melhorar a preparação da UE perante cenários de crise.

Volpe enfatiza que o sucesso do EDF dependerá da colaboração entre os setores industrial, académico e governamental: “É essencial que empresas, centros de investigação e administrações trabalhem em conjunto para garantir que a Europa desenvolve capacidades de defesa soberanas e tecnologicamente avançadas”.
Por sua vez, Giacinti sublinha a importância do planeamento a longo prazo: “A defesa não é um setor onde a improvisação seja uma opção; exige investimentos contínuos e uma estratégia clara para enfrentar os desafios do futuro”, conclui.