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FABRICO DE BENS

Matérias primas: procura de resiliência Perdida

materias primas
Marian Pereira

Marian Pereira

Consultor sénior em Projetos Europeus

Na sequência da pandemia da COVID-19 e da guerra contra a Ucrânia, já não é surpreendente a importância das questões de abastecimento em geral (electricidade, gás, alimentos) e das matérias-primas. Mas a que é que chamamos matérias-primas? Ou melhor, o que é que a UE chama às matérias-primas?

As matérias-primas são materiais ou substâncias utilizadas na produção primária ou no fabrico de bens. Como tal, abrange uma vasta gama de materiais, embora o IET Matérias-Primas se refira especificamente a minerais, metais e materiais avançados. A UE define e revê uma lista de matérias-primas críticas (MRC), que são os elementos que combinam uma grande importância para a economia europeia e um risco considerável no seu fornecimento. Como um facto curioso, nós espanhóis podemos orgulhar-nos de controlar os depósitos de estrôncio do mundo. Não nos faltarão relógios nucleares (tenho a certeza que já se perguntaram para que são utilizados… pelo menos eu tenho), mas receio que contribuamos pouco mais para esta lista de MRC.

A oportunidade das matérias-primas

Em geral, a Europa é uma região com um fornecimento limitado de matérias-primas, especialmente de matérias-primas minerais, devido ao baixo número de minas activas no território europeu. Se até agora tem sido possível garantir o fornecimento de elementos limitantes graças às relações comerciais e acordos com terceiros (importações), isto pode mudar quando as instabilidades geopolíticas são desencadeadas, como está a acontecer actualmente.

Sempre foi dito que as crises são momentos de oportunidade, e o ideal é gerar oportunidades de mudança para melhor. Um dos problemas que deve ser minimizado é a dependência destas importações de matérias-primas. Devemos concentrar-nos nos avanços tecnológicos e na I&D para tornar os recursos viáveis que antes não eram práticos ou não estavam disponíveis ou não eram rentáveis. Este seria o caso de projetos de revalorização de materiais provenientes de antigas fontes de resíduos, seja da mineração, da indústria ou após o processamento de resíduos urbanos.

Outro exemplo é a aplicação de tecnologias recentes que tornam possível a reabertura de minas fechadas ou o tratamento de materiais complexos anteriormente não utilizados por processos de tratamento e refinação. Tudo isto de um ponto de vista ‘circular’ em que todo o ciclo de vida dos materiais e produtos é considerado, para evitar impactos negativos da indústria, para promover processos mais eficientes e amigos do ambiente, de modo a que possam ser sustentáveis a longo prazo.

560 milhões de euros para os próximos dois anos

Por conseguinte, a Europa apoia clara e urgentemente novos projetos de I&D e inovação no sector das matérias-primas. As matérias-primas são uma prioridade incluída no Cluster 4 da Horizon Europe (ainda não se sabe em que termos), para projetos de I&D e inovação. Especificamente, destino 2: Maior Autonomia em Cadeias de Valor Estratégico Chave para a Indústria Resiliente, apresenta um orçamento de cerca de 560 milhões de euros só para 2023 e 2024 para chamadas de cadeias de valor resilientes.

É uma convocatória de projetos que apoiam uma maior autonomia, e uma transição para uma economia circular e neutra em termos de carbono. Por outro lado, o EIT Matérias-Primas apoia projetos industriais à escala piloto, bem como projetos de formação e educação com convites anuais, incluindo programas de divulgação e desenvolvimento de carreira no sector. Para além destas linhas específicas, qualquer projeto de recuperação ou revalorização de materiais poderá ser incluído no Programa LIFE, se tiver um impacto positivo significativo sobre o ambiente.

Semana das Matérias-Primas

Finalmente, a 7ª edição da Semana da Matéria Prima está a decorrer de 14 a 18 de Novembro. É um evento à escala europeia que deverá reunir um vasto leque de interessados para discutir políticas e iniciativas no domínio das matérias-primas.

Assim, parece que estamos a viver numa época de oportunidades (sejamos positivos e não nos concentremos por um momento na crise), para construir uma indústria e sociedade melhor, mais autónoma, flexível, resiliente e sustentável.

Com tudo isto em mente, vamos tentar não nos sentir alienados destas “matérias-primas” de que precisamos na nossa vida quotidiana, quer queiramos quer não, e ver como podemos contribuir para esta cadeia de valor do produto: reduzir o consumo, reciclar ou definir um novo processo para revalorizar os metais. Ideias inovadoras são bem-vindas, por isso, estejam atentos às próximas publicações sobre pedidos de financiamento.

Pessoa especialista

Marian Pereira
Marian Pereira

Sede de Sevilha

Consultor sénior em Projetos Europeus