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Energia

Como podem os consumidores fazer parte da inovação na flexibilização dos mercados energéticos?

Enlit Europe e mercados energéticos
Susana Garayoa

Susana Garayoa

Diretor de Relações Institucionais em Bruxelas

Numa sessão concorrida que teve lugar no final do mês passado em Paris, no âmbito do Enlit Europe, o projeto europeu BeFlexible, em colaboração com os projetos Enflate e Stream, assistiu-se a um debate sobre a flexibilidade dos mercados de energia que teve como foco a pergunta: “Estão os consumidores prontos para a inovação na flexibilização dos mercados energéticos?”. O evento atraiu mais de 150 participantes interessados em explorar as dinâmicas complexas do setor energético em evolução.

A sessão contou com um painel de especialistas da indústria e centros de investigação: Fernando David Martín Utrilla da i-DE (grupo Iberdrola), coordenador do projeto BeFlexible; Jan Jeriha, da Universidade de Liubliana, coordenador do projeto Stream; Katerina Drivakou, da Ubitech, coordenadora do projeto Enflate; e Ricardo Bessa, da Inesc Tec, orador principal.

Enlit Europe e mercados energéticos

Como parte da equipa do projeto Horizon Europe BeFlexible, tive a oportunidade de moderar a sessão, na qual se gerou um debate crucial sobre o novo paradigma para os consumidores de energia e se navegou pela paisagem atual do mercado elétrico, após a sua recente transformação.

O BeFlexible é uma iniciativa abrangente construída sobre quatro pilares-chave. Começa com uma análise dos mercados e regulamentações com o objetivo de estabelecer um enquadramento flexível para novas oportunidades comerciais. O passo seguinte implica definir e adaptar um ecossistema de serviços para oferecer soluções diversas e flexíveis em diferentes setores. A implementação inclui a criação de plataformas e arquiteturas, como a Rede de Dados e Negócios de Rede (GDBN, sigla em inglês), garantindo uma interoperabilidade completa de dados. Por último, o BeFlexible enfatiza a participação do cliente e uma abordagem de cocriação social para satisfazer eficazmente as necessidades do consumidor.

O foco do debate esteve na necessidade de desbloquear os mercados de flexibilidade, abordando aspetos críticos das futuras oportunidades no setor energético. O painel aprofundou temas como as barreiras e motivações que influenciam a participação do consumidor, a interoperabilidade da plataforma e os quadros regulamentares em evolução. Também foi central na conversa o reconhecimento de uma mudança de paradigma em direção à conectividade inteligente da rede para os consumidores, com um enfoque em incentivos, educação, feedback e apoio para a participação ativa.

Fomentar a participação do cliente

Ao destacar o papel fundamental das plataformas, o painel explorou as oportunidades oferecidas por vários projetos dentro dos clusters financiados pela União Europeia. O debate também aprofundou os desafios regulamentares e propôs soluções de serviços flexíveis, destacando o delicado equilíbrio entre a inovação e a adaptação regulamentar.

As ideias-chave de Ricardo Bessa apontaram os desafios de fomentar a participação a longo prazo do cliente nos mercados de flexibilidade. Discutiu-se o potencial de uma combinação de incentivos monetários e não monetários para desbloquear a flexibilidade, enfatizando a necessidade de uma maior informação do consumidor e literacia energética, e destacou o gargalo das redes de baixa tensão para a descarbonização, que requer novos paradigmas de planeamento e operação.

Bessa sublinhou ainda a importância fundamental da interoperabilidade entre plataformas, sistemas e serviços para uma exploração rápida e rentável da flexibilidade. Nesta perspetiva, enfatizou a natureza interconectada da paisagem energética, onde a integração perfeita é crucial para desbloquear o seu máximo potencial.

Harmonizar soluções inovadoras

Ao abordar as complexidades regulamentares, os participantes destacaram o crescente desafio de acomodar os novos recursos energéticos distribuídos, os papéis e os modelos comerciais entre eles. Neste sentido, são especialmente relevantes a harmonização transfronteiriça, a integração explícita da flexibilidade nas avaliações de segurança do fornecimento e a implementação de tarifas de rede refletindo custos. As perceções do painel lançaram luz sobre o delicado equilíbrio necessário para harmonizar soluções inovadoras com os quadros regulamentares.

Assim, para além de ser uma plataforma para a troca de conhecimentos, o evento destacou os esforços colaborativos necessários para moldar o futuro do panorama energético.

Pessoa especialista

Susana Garayoa
Susana Garayoa

Sede de Bruxelas

Diretor de Relações Institucionais em Bruxelas